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Artigos-->Dr. Trajano: Cem Anos de História Dedicada à Limeira -- 01/01/2000 - 02:47 (João Augusto Cardoso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PRÊMIO JORNALÍSTICO TRAJANO DE BARROS CAMARGO



Prefeitura Municipal de Limeira - Secretaria de Educação e Cultura - Departamento de Imprensa



1º Lugar - Categoria Jornalismo Impresso



* João Augusto Cardoso - O Jornal - Janeiro de 1990



DR. TRAJANO: CEM ANOS DE HISTÓRIA DEDICADA À LIMEIRA



© Copyright 1990 by João Augusto Cardoso



Hoje, cem anos após o nascimento de um dos mais ilustres filhos de Limeira, é impossível desvincular a pessoa do Dr. Trajano de Barros Camargo, e sua "Machina São Paulo", desta progressista cidade, um dos maiores pólos industriais do Estado de São Paulo e até mesmo do Brasil.

Sua história não se inicia propriamente com seu nascimento, mas com o surgimento de Limeira, que teve seus ancestrais entre os mais antigos povoadores. O capitão Ignácio Ferreira de Sá, seu bisavô, em 1799 recebe a primeira sesmaria da região, em conjunto com coronel Luiz Antonio de Souza. O capitão Ignácio, casado pela segunda vez com Delphina de Camargo Penteado, vende, em 1820, parte de suas terras ao capitão Luiz Manoel da Cunha Bastos que, em 1826, funda a povoação de Limeira. Odorico Ferreira de Camargo, avô do Dr. Trajano, filho do capitão Ignácio, nasceu em 1797, foi casado com D. Maria Luiza e faleceu em 1853, deixando grande fortuna. O tio avô de Trajano, Alferes Franco, é tataravô da esposa de seu filho mais velho, Olga Caiuby.

Já em 1837, nasce o coronel Flamínio Ferreira Camargo, filho de Odorico, que em 1857 casa-se com Ana Brandina, tendo uma filha: e viúvo, com sua segunda esposa Cândida Virgínia de Barros, neta do Barão de Campinas, tem mais dez filhos, e dentre eles, TRAJANO DE BARROS CAMARGO, o sexto filho.

Trajano Camargo nasce em Limeira em 15 de março de 1890. Coronel Flamínio, com sua firmeza de caráter, sua tradição, origem destemida, é quem influencia diretamente na formação pessoal do Dr. Trajano, sua maneira de ser, sua índole, seu temperamento. Herdou também do coronel Flamínio, seu pai, a virtude de se antecipar à história. Como exemplo o fato do coronel libertar seus escravos, mesmo antes da Lei Áurea; e, quando Limeira ainda não possuía uma única escola, cede sua grande residência para que funcionasse o primeiro Grupo Escolar da cidade, que leva o seu nome. Para que isso acontecesse, mudou-se com a família para a chácara, onde é hoje a Câmara Municipal e o Zoológico.

Trajano passa sua infância como todas as crianças da época, e já desde menino, destaca-se entre os irmãos, pelo espírito altruísta. Inicia seus estudos como interno da Escola Americana, do Mackenzie, em São Paulo, no início do século, formando-se em 1909, em Engenharia Civil da mesma Escola Mackenzie College. Já no ano seguinte, em 1910, parte para os Estados Unidos da América, ingressando na Universidade de Winsconsin, em Madsen, para cursar pós-graduação em Mecânica (industrial). Na mesma universidade, além de exímio estudante, integra a Orquestra Sinfônica como flautista, e foi o responsável, para que, pela primeira vez, fosse tocado o Hino Nacional Brasileiro.

Retorna ao Brasil, quando em oito de novembro de 1919, seu pai o coronel Flamínio Falece, sem portanto, concluir essa fase de seus estudos.

Dedicou-se no mesmo ano, na cidade de Itapeva (Faxina), ao comércio e indústria de madeiras, voltando-se em 18 de fevereiro de 1911 ao magistério, lecionando matemática na Escola Agrícola Luiz de Queiroz, em Piracicaba. Lá Trajano conhece a filha do Dr. Silveira Melo, a professora Maria Thereza, com quem se casa em 10 de fevereiro de 1914, no Rio de Janeiro onde passou a residir o sogro.

Onze dias antes de seu casamento, Trajano constitui sociedade com Abelardo Aguiar de Souza e Antonio Augusto de Barros Penteado, seu cunhado, e assinam o primeiro contrato de constituição da indústria "Souza Penteado e Cia", (primeiro nome da Machina São Paulo), em Piracicaba, no dia 30 de janeiro de 1914, e registram-no em março de 1915.

A indústria especializada em máquinas de beneficiamento de café, sofre a retirada do sócio Abelardo de Souza, descontente com a mudança de seu complicado equipamento a base de engrenagens, por sistema de polias, sendo simplificado seu funcionamento pelo Dr. Trajano, a quem cabia a gerência.

B. Penteado e Cia. (a segunda denominação da Machina São Paulo), vem para Limeira, terra natal do insigne Dr. Trajano de Barros Camargo, que regressa com a esposa Maria Thereza e vai morar com mãe viúva dona Cândida, na casa da chácara construída por seu pai, o coronel Flamínio.



EDITORIAL

(Editorial da edição especial de "O Jornal",

sobre o Prêmio Jornalístico)



Limeira vive neste ano, o centenário do nascimento de um de seus mais ilustres filhos, que com sabedoria e equilíbrio, soube dosar seus anseios, sua dedicação, e colocar em prática o desenvolvimento sadio que não fosse voltado só para si, e em seu benefício.

Em 15 de março de 1890, nasceu este grande homem, de nome TRAJANO DE BARROS CAMARGO.

Qualquer adjetivo empregado para enumerar suas qualidades, que resultaram no progresso de Limeira, seria ainda insuficiente em conteúdo, ao se comparar com sua contribuição vultosa, que marca a cidade até hoje, e que jamais poderá viver sem a memória de Trajano.

Seu pensamento transcendeu sua época, antecipou a história, viveu em harmonia com o desenvolvimento, e a estrutura que propiciou a sustentação de seus feitos, com bases sólidas.

Do ponto de vista de como "deveria" ser um homem, este nada deixou a desejar; foi apenas um homem humano, que soube usar seus talentos e habilidades, que soube "planejar, colher e replantar, e ainda semear e fertilizar este terreno, não deixando sua

árvore produzir seus frutos ao acaso. Soube liderar com consciência seus plantadores, colhedores, e soube dar guarita à não apenas a estes".

Entretanto não são raros os que souberam bem usar seus dotes divinos, e empregá-los com equilíbrio e harmonia, sem se corromperem com a ganância e egoísmo? Trajano é desses raros homens que conseguiu se distinguir por tal feito. Tinha, sobretudo, consciência; e conhecia o "organograma" do desenvolvimento sadio, sem atritos e sem prejuízos com seu meio.

Dar de si, foi talvez, sua maior virtude. Dar de si por seus entes queridos, pela sua obra, por aqueles que o ajudaram a engrandecê-la, pela sua comunidade, foi o segredo que o enlevou ao "rol" dos grandes homens. "... Pois é dando que se recebe..."

Seu nome é conhecido de todos, seus feitos porém, por muitos ignorados. Por isso, além das homenagens prestadas no passado, dando seu nome à principal rua da cidade, à Rua Dr. Trajano, e à E.E.P.S.G. Trajano Camargo; neste centenário, simbolicamente ser-lhe-ão prestadas (pequenas diante de seus feitos) justas homenagens.

Lançado em outubro passado (pelo departamento de imprensa da Prefeitura Municipal) foi criado o "Prêmio de Jornalismo Trajano de Barros Camargo", um dos eventos comemorativos ao centenário de seu nascimento, para as categorias de jornalismo escrito e radiojornalismo. Para os jornalistas participantes, a honra de ajudar a escrever a história deste insigne homem, e ainda muitas páginas da história de Limeira. Além disso, que é o menos importante, simbólicas e não necessárias recompensas, mas que bem vindas, uma vez que foram instituídas.

Assim mesmo, ao contrário de Trajano, confundiu-se "política e outros interesses", com o real significado do evento, que servir como fonte de pesquisa para estudantes, que participarão de concurso com o mesmo tema Dr. Trajano. Os troféus e prêmios para os jornalistas, jornais, e rádios, nada representam diante da generosidade do homem simples, do engenheiro competente, do industrial revolucionário, do pai e do esposo dedicado, do "cem anos avançado.

Dr. Trajano representou para Limeira, o que representa o leite para o recém-nascido, para o bebê em crescimento. Representa hoje, o marco de uma nova era. Participar deste concurso, é prestar, sem favor algum, um enorme serviço a toda comunidade; é evocar a história de uma cidade, de um povo, para que este melhor compreenda suas origens, e tenha melhores perspectivas para o futuro; é reviver a memória do Dr. Trajano de Barros Camargo, que viveu ao lado de sua obra, e não no auge dela.

"A razão pela qual os mares recebem a homenagem de todos os rios, é porque não se colocam acima deles".



OS NOVE FILHOS DE TRAJANO E MARIA THEREZA



NELSON DE BARROS CAMARGO, o filho mais velho, nasce em São Paulo em nove de janeiro de 1915; casado com Olga Caiuby de Barros Camargo, reside hoje com sua esposa em sua cidade natal, onde ainda exerce sua profissão de engenheiro civil, como notável especialista em estruturas de concreto, tendo projetado todo dimensionamento e desenho de execução de concreto dos famosos edifícios paulistanos: Terraço Itália; o edifício do antes Banco Moreira Sales, hoje sede do Unibanco; e do edifício Copam, projetado por Oscar Niemayer (o edifício em "S"). O Dr. Nelson foi prefeito de Limeira em 1947, e presidente do Rotary Club Limeira, e mais tarde do Rotary Club São Paulo. O casal Nelson e Olga têm dois filhos: Nelson Eduardo e Vera Helena.

Todos os outros filhos do Dr. Trajano e de D. Maria Thereza Silveira de Barros Camargo, nascem em Limeira, num espaço de doze anos.



FLÁVIO DE BARROS CAMARGO, nasce em cinco de julho de 1916. Hoje é engenheiro e especialista em redes elétricas. Viúvo de Emilina Paolillo, reside em Campinas com sua segunda esposa Léa de Barros Camargo. Teve três filhos com Emilina: Carmem Sílvia, Trajano de Barros Camargo Neto, e Luiz Antonio; e com Léa tem duas filhas: Elisa e Flávia.



RENATO DE BARROS CAMARGO, Nasceu em 14 de agosto de 1917; advogado, reside hoje em Bauru, com a esposa Coralina de Barros Camargo. São três as filhas: Maria Inês e as gêmeas Lígia e Lia.

LUIZ DE BARROS CAMARGO, o quarto filho, nascido em nove de março de 1919, vem a falecer com seis meses. A família crê que devido à "gripe espanhola" de 1918, Luiz tenha nascido com alguma doença congênita, como explica o irmão Dr. Flamínio.



FLAMÍNIO FERREIRA DE CAMARGO NETO, é o único que não adota o sobrenome "Barros Camargo". O irmão mais velho Nelson, sugere à Flamínio que adote o nome do avô, uma vez que naquele tempo o nome de registro era apenas o nome de batismo, e ainda que o primo Flamínio, mais velho, não o quis. Diz Nelson: "Fui eu quem batizou o Flamínio...". Nasceu numa sexta-feira, 13 de agosto, de 1920, num ano bissexto; (talvez o motivo de tamanho sucesso). Médico, após um ano de residência na Universidade de Columbia, Nova Iorque, dedica-se à medicina por dez anos, como anestesista. De 1976 em diante, representa no Brasil, com exclusividade, importante empresa norte-americana, fabricante de equipamentos médicos. Reside atualmente em São Paulo com a esposa Maria Flávia Franco Ferreira Camargo, com quem tem três filhas: Maria Elisa, Maria Laura, Maria Marta.



TRAJANO DE BARROS CAMARGO FILHO, como o pai, é o sexto filho, e é o único residente em Limeira. Nasceu em nove de maio de 1922. Viúvo de Maria Antonieta Ardito, teve três filhos: Edson, Júlio César e Silvana. Despertou-se para a eletrônica, a comunicação, para o rádio amadorismo desde menino. Seu pai em 1923 foi possuidor do primeiro rádio de Limeira. "Trajaninho" conta que quando sintonizara o rádio pela primeira vez, numa estação da Argentina, para ouvi-la em companhia da família e do parente Dr. Sebastião Toledo Barros, este, perplexo sem saber o que pensar imagina que o Dr. Trajano queria iludi-lo, enganá-lo com alguma mistificação e sai sem que o percebam. De rádio em rádio, nos muitos que especulava, montava e desmontava, foi adquirindo conhecimento prático, reforçado por vasta literatura em inglês sobre o assunto, pertencentes ao pai e outros parentes. Como que "pré-destinado" ao ser sentinela de todos os bens históricos da família, e da Machina São Paulo, constituindo um vultuoso acervo, desde objetos pessoais, livros, até históricos documentos, Trajaninho têm tudo em sua guarda, em sua cidade natal, onde é muito querido pelos amigos.



DAVID DE BARROS CAMARGO, nascido aos nove de setembro de 1923, falece de problemas cardíacos, aos três meses de idade.



PRUDENTE DE BARROS CAMARGO, nasce em 19 de janeiro de 1925, foi casado com Cecília Alvarenga, mora hoje no Rio de Janeiro. Prudente é técnico em eletrônica, especialista em armamentos e estudioso da pré-história. São seus filhos: Trajano Lucas, e Maria Lúcia.



MARIA THEREZA DE BARROS CAMARGO, caçula dos nove filhos, a única mulher, nasceu em 13 de maio de 1928. Arquiteta, foi casada com o diplomata aposentado como cônsul geral, Benedito Carlos Roque Seroa da Mota. Reside no Rio de Janeiro desde 1962. São dois os filhos: Carlos e Tereza Cristina.



Nota-se pela formação dos filhos, todos criados meio a vida do pai industrial, sereno, tranqüilo, amável, de diálogo aberto com todos dinâmico, respeitadíssimo, que acompanhava e era severo com os estudos de todos os filhos, o desenvolvimento pessoal de cada um, que tomaram, a exemplo do pai, cada qual o seu rumo. Igualmente acompanhado pela mãe, D. Therezinha, mulher dinâmica, de grande disciplina e grande iniciativa, de dotes administrativos, professora com quem o filho mais velho aprendeu a ler e escrever, inclusive muitos dos amiguinhos vizinhos.

Por determinação dos pais Dr. Trajano e D. Therezinha, desde a segunda residência que tiveram, de fronte ao grupo Brasil, um antigo imóvel dos Levy (já demolido para dar lugar ao Jumbo-Eletro), depois no casarão da esquina da Boa Morte, e por último na casa que se situava onde foi a sede do Nosso Clube, (hoje Lojas Cem), todos os filhos tinham educação extra-escolar, com aulas e professores de piano e inglês.



O DESENVOLVIMENTO DA MÁCHINA SÃO PAULO



A indústria de máquinas de beneficiar café crescia e progredia paralelamente aos filhos do Dr. Trajano. De 1917 à 1930, Machina São Paulo passou a ter a denominação comercial de B. Penteado e Cia, sob gerência do sócio Trajano. Antonio Augusto de Barros Penteado era sócio comandatário.

Até 1922, a Machina São Paulo caminhava normalmente, crescendo naturalmente. "Por ironia", Dr. Trajano descobre um método para separar os grãos, da casca do café, que revolucionaria a indústria e igualmente o beneficiamento cafeeiro. Com um estilingue, uma atiradeira, Trajano Camargo atira contra a parede, e nota que com o choque, a casca se partia e liberava totalmente os grãos de café.

Nesta época, cria e desenvolve a primeira máquina compacta para descascar café, de bom funcionamento, através do processo de choque, com peneiras, e vento para soprar as cascas, separando-as do café descascado. Até então eram necessárias cinco máquinas para fazer o mesmo serviço.

A indústria passou a se desenvolver mais e mais, depois que ganhou Medalha de Ouro na Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil.



A PREOCUPAÇÃO COM A EDUCAÇÃO: DOS FILHOS, E DA COMUNIDADE



Sua vida, bem vivida, não se restringiu aos interesses da indústria, também aos interesses familiares, com a educação dos filhos, e dos filhos de seus funcionários e toda comunidade.

D. Therezinha vivia dizendo: "filhos meus, não vão para colégio interno", compreendendo e concordando, em 1923, Dr. Trajano traz para Limeira, bem como custeia, o Colégio Santo Antonio, da cidade de Descalvado, funcionando inicialmente como escola primária até o primeiro semestre de 1925, onde é o correio hoje.

Dr. Trajano constrói em 1925 as novas instalações do colégio, com salas de aula, internato, salão de ginástica, refeitório, administração, casa do diretor, tendo comprado para isso, uma quadra inteira, entre as ruas Santa Cruz e Alferes Franco. A escola beneficiava diretamente a comunidade limeirense, e da região oferecendo cursos primário e intermediário, diurnos e noturnos.

O Colégio Santo Antonio funciona até hoje, tendo já formado em seus múltiplos cursos, dezenas de milhares de alunos. O "cem anos a frente de seu tempo", de visão futurista, atento ao desenvolvimento, as necessidades da indústria, da formação de mão-de-obra especializada, e sobretudo preocupado com o desenvolvimento dos que o cercavam - parentes, funcionários, amigos - Dr. Trajano, institui na Machina São Paulo uma Escola Profissional para Aprendizes, com cursos de mecânica, carpintaria e fundição, para os filhos dos funcionários, e consequentemente dos meninos interessados da comunidade. Além da formação de mão-de-obra especializada, esses meninos, maiores de doze anos, "aprendizes", produziam para a indústria e aumentavam a renda familiar, e, muitos "concorriam" com adultos.

Entre suas atividades dedicadas à educação, à cultura, à instrução, ainda apoia e incentiva o "Instituto Musical Carlos Gomes", até 1930.



DR. TRAJANO E A MORADIA PARA SEUS FUNCIONÁRIOS



Em 1925, Trajano importa uma máquina de fabricar tijolos de cimento, o que é hoje novidade na construção civil de Limeira, para construir uma vila inteira. O engenheiro Trajano batizou o novo conjunto de casas para seus funcionários, de Vila São Paulo, que mais tarde passariam a ser as "casas próprias".

Há quem diga que ele comprou a Vila Santana com a mesma finalidade de dar moradia a seus funcionários. Construiu também, casas com pouco mais conforto para seus três diretores Ambrósio Fumagalli, Mário Vinhas e Otávio Coelho. Também ajudou inúmeros funcionários como Pedro Bianchini, a comprarem suas casas próprias em outras localidades da cidade. Com três contos de réis tomados emprestados do Dr. Trajano, o Sr. Bianchini comprou sua casa no Bairro Boa Vista, com quase uma quadra de terreno, de fronte, à Igreja São Sebastião.



A EXPANSÃO DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL DA MACHINA SÃO PAULO



Nicolino Guimarães Moreira, da vizinha cidade de Piracicaba, onde o Dr. Trajano iniciou sua indústria, fica até altas horas apresentando um projeto de secador de café de sua patente.

Trajano adquire os direitos de industrialização mediante pagamento de dez por cento de "royalities", equivalentes a um conto de réis (1:000$000), em 1926. São produzidos quatro ou cinco protótipos e espalhados por diversas zonas cafeeiras, onde foram acompanhadas e adaptadas aos diferentes tipos de café, e seus graus de umidade.

Haviam 20 patentes brasileiras de secadores sem bons resultados práticos, registrados no Instituto Agronômico de Campinas (1895). Tal o sucesso desses secadores de café, em fase de experimentação, a Machina São Paulo, em 1928 passa às vendas em larga escala para todo o Brasil e exterior.

Sem exagero algum, podemos dizer que a Machina São Paulo era auto suficiente, pois, adquiria apenas matéria prima brutas: toras de madeira que eram apenas desdobradas e aparelhadas pela serraria e trabalhadas pela carpintaria; metais brutos em ferro e aço, perfis laminados, ferro gusa; rolamentos, carvão coque; aço siderúrgico.

Um dos interessantes casos que envolveu a ampla visão do industrial Dr. Trajano, foi a encomenda de importação de um navio de chapas galvanizadas com liga de molibdênio, após utilizadas em algumas máquinas para maior resistência ao calor, umidade, e à acidez, com intenção de ampliar a durabilidade das mesmas. Podemos imaginar a surpresa de tal empresa norte-americana. Por acreditar ser uma carga demasiado grande para o país, quanto mais para uma única indústria, a empresa telegrafa à Machina São Paulo para confirmar o pedido. A firma envia um representante ao Brasil para "visitar" pessoalmente a indústria limeirense. Além da garantia de matéria prima para a fabricação assegurava a produção por muitos e muitos anos, (tais chapas existiram durante toda a vida da indústria).



O HOMEM PÚBLICO



Neste período de realizações sociais, educacionais, industriais, Dr. Trajano implanta um programa de seguro de vida e acidentes de trabalho, incentivo à produção com prêmios para funcionários (utilizados hoje pelas modernas organizações industriais), mais uma vez antecipando-se à história, instituindo também a carteira de férias, antes mesmo das modernas Leis Trabalhistas.

O homem público, de espírito humanístico, ainda encontra tempo para se dedicar ainda mais à sua cidade, sendo vereador, presidente da Câmara Municipal de Limeira, vice-prefeito em 1920 e atuando como prefeito algumas vezes.

Fazia de sua vida, verdadeira dedicação aos interesses da comunidade, em que acreditava, sem mesquinhas pretensões individualistas e "politiqueiras". Trajano de Barros Camargo Filho, lembra-se de uma das passagens de seu pai. Conta ele: "Paollilo Magald e Cia. - Banqueiros e Importadores, banco limeirense de Evangelista Paollilo e Salvador Magald, vésperas à crise que ocorreria, sofreu grande corrida aos seus caixas. O Banco com enormes quantias emprestadas aos agricultores, sem receber, já enfrentava grandes dificuldades e não contava com dinheiro suficiente para atender a demanda dos saques. Um dos sócios já estava a ponto de estourar os miolos , e não encontrando mais saída para o problema recorre ao Dr. Trajano, que como homem prático que era, estudara a situação em conjunto com o banqueiro, logo chegando a uma solução."

"Solicitou uma lista dos devedores atrasados e nela encontrou o nome do conhecido Major José Levy Sobrinho, que tinha a soma de 300 contos de réis em débito no banco. Major Levy chega ao banco dizendo: Vim para prestigiar o Salvador ; e Trajano retruca: corrida de banco só se susta com dinheiro na boca do caixa , e diz ao major: Zezinho... você deve ao banco 300 contos que está por vias de quebrar e o banqueiro de se suicidar, então paga logo ao banco . (Hugo Martenzi era caixa do banco na época e presenciou o fato). Dr. Trajano passando seu cheque pessoal no valor, contra o Banco Commercial, ajuda a salvar o banco, e depois passa uma Letra de Câmbio para o major assinar em aceite, que disse não ter recebido ainda por sua safra. Em Santos na Casa Levy, Trajano saca a letra em dinheiro, onde o major Levy tinha aplicações.



A MACHINA SÃO PAULO E A CRISE DE 1929



Com seus barracões repletos de máquinas prontas, com grande estoque de matéria prima, na terça-feira de 29 de outubro de 1929, deflagra-se a queda da Bolsa de Nova Iorque. Neste ano o Brasil havia produzido uma safra recorde, de 40 milhões de sacas de café, e caem imediatamente as exportações.

Evidentemente, com a saturação de mercado que houve, a Machina São Paulo com seus 700 funcionários, teve queda abrupta em suas negociações. Foi obrigada a demitir semanalmente 50 funcionários, enquanto os restantes trabalhavam três dias por semana. Posteriormente, a indústria é forçada a vender seus estoques de máquinas e materiais pela metade do preço de mercado antes da crise.

Nesta época, durante a crise, quando o Dr. Trajano já não sentia estar muito bem de saúde, requer a transformação da empresa em Sociedade Anônima, com o intuito de passar as ações para a esposa e os filhos, que chega tarde demais.



LIMEIRA PERDE SEU FILHO TRAJANO



Em oito de abril de 1930 às dez horas da noite, Dr. Trajano de Barros Camargo, parte deste mundo para uma vida maior, com apenas 40 anos de idade, mas com feitos que muitos necessitariam ter várias existências para alcançar. Tendo falecido de câncer, na casa onde residia, na Rua Alferes Franco (local das lojas Cem), depois de velado, parte num cortejo até a Igreja da Boa Morte, e de lá para o Cemitério da Saudade.

José Bianchini, ainda na ativa com seus especiais serviços de marcenaria e carpintaria, ex-aluno da Escola de Aprendizes e ex-funcionário da Machina São Paulo; Avelino Giacon, funcionário da Indústria Fabri; Otávio Tetzner; Pedro Paiol; Lázaro Porfírio; Ana Bianchini (costureira e bordadeira da residência); Juca Assumpção, todos ex-funcionários, lembram pesarosos desta data com pronta precisão e saudosos desta grande figura, que marcou a vida de todos.

Contam que por todo o trajeto, todas as luminárias, em sinal de luto, foram revestidas de véu negro, em respeito a insigne memória de Trajano. Compareceu uma grande multidão para o sepultamento que prestou sua homenagem, na última morada de

Trajano Camargo, digna de um estadista.

"O Vagalume" (órgam do Colégio Santo Antonio e do Gymnásio Municipal de Limeira - jornal editado por alunos, professores, datado de abril de 1930, anno III, nº 22), presta, com conteúdo total, valorosa manifestação em homenagem ao Dr. Trajano, com artigos assinados por inúmeros alunos, colaboradores, professores. Narram todas as passagens, com título geral: A Honrada Memória do Nosso Inesquecível Presidente Sr. Dr. Trajano de Barros Camargo, Modesta, Porém Sincera Homenagem do Collégio Santo Antonio.

Um dos artigos é assinado pelo saudoso "Olindo de Luca", (conceituado médico, colunista do tradicional jornal Gazeta de Limeira (coluna Cantinho), escritor com vários livros publicados), do qual extraímos com precisão alguns trechos a seguir:

"... Sua modéstia nada deixa a desejar, bem como sua generosidade, dando trabalho a não poucos operários, alastrando quanto mais podia seus domínios, a fim de fazer honra a seu berço, que é hoje esta cidade que com orgulho, a chamamos de "Nova Manchester". A "Machina São Paulo" tanto no interior como no exterior, é uma prova perene de sua capacidade industrial. Ao seu sepultamento, compareceram mais de quatro mil pessoas de todas as classes, (muito para a época), sendo grande o número de telegramas, cartões, flores e coroas, recebidos pela família, nesse dia de triste recordação para toda Limeira..."

"O caixão trazia em seu dorso a Bandeira Nacional, sendo carregado após a sua saída, as três e meia da tarde da rua Alferes Franco nº 54, por seus parentes até a Igreja da Boa Morte. De lá, ao Cemitério Municipal foi carregado por atiradores do TIRO DE Guerra "557". Foram também a seu enterro, os alunos dos colégios Santo Antonio, São José, as alunas da Escola Normal livre de Limeira, o Tiro de Guerra (fardado), as diretorias do Limeira Clube e Nosso Clube, a Irmandade da Boa Morte, representantes da Câmara dos Vereadores, ex-funcionários, etc."

"No dia seguinte o comércio com suas portas cerradas, algumas escolas suspenderam as aulas por três dias, a Câmara Municipal com a Bandeira Nacional com a pequena faixa preta que significava: "Limeira está em luto".



A FAMÍLIA CONTINUA A OBRA DO DR. TRAJANO



A viúva D. Maria Thereza Silveira de Barros Camargo, a esposa, mãe de seus filhos menores, até então restrita ao lar, e seu filho mais velho, Nelson, com apenas quinze anos, assumem a direção da indústria, a Machina São Paulo. Logo após a família vende, por preço simbólico, sua residência, à Sociedade Dançante e Recreativa Nosso Clube, e compra a "chácara" do cunhado Mário de Barros Camargo, para não sair de posse da família, onde passam a residir.

Em 1931, a Machina São Paulo constituiu sua gráfica própria, com equipamentos de um pequeno órgão de imprensa desativado, e a incrementa. Esta se não a mais, é uma das mais completas e modernas gráficas de todo o país em sua época. Imprimia material de uso próprio, catálogos publicitários, boletins e outros. E em 1932 imprimiu os boletins da revolução constitucionalista, que eram vendidos, inclusive por escoteiros, em Limeira e região, colaborando com os soldados revolucionários, com impressão tipográfica em várias cores, e em policromia (colorida).

D. Therezinha participa com a Machina São Paulo do esforço bélico da revolução, produzindo corpos de granadas de mão.

Os benefícios dos dispositivos criados por Dr. Trajano, seguros de vida e acidentes, e outros, são estendidos a todos funcionários.

Em 1933, atendendo o pedido de D. Therezinha, o governo do Estado de São Paulo cria a escola profissional, mais tarde, batizada de Escola Profissional Trajano Camargo, e a Machina São Paulo doa as primeiras máquinas para equipá-la e iniciar seu funcionamento. A Escola Profissional foi instalada na esquina da Rua Tiradentes com Barão de Cascalho.

Algum tempo depois Major José Levy, então secretário de agricultura, fecha a escola profissional para abrir uma escola de enologia e pomicultura, que segundo a família e remanescentes, nunca funcionou.

Com seu grande espírito de iniciativa, coragem, e seus dotes administrativos, D. Maria Thereza é nomeada pelo interventor Armando Sales de Oliveira, a "primeira mulher prefeita do Brasil" em 1934, ocupando a cadeira de prefeito até 1935, quando se elegeu deputada estadual, com mandato até 1937, pelo Partido Constitucionalista. Embora tenha feito campanha entre os funcionários da Machina São Paulo, em momento algum tolheu a Liberdade do direito de voto, direito de escolha, contaram antigos funcionários.



GRUPO BRASIL E A ESCOLA TRAJANO CAMARGO



No fim dos anos 30, D. Therezinha com recursos próprios financia a construção do grupo Brasil, cuja verba só seria reembolsada posteriormente pelo Estado.

A Escola Profissional Trajano Camargo, é fechada pela segunda vez pelo Major Levy, o que faz com que D. Therezinha inicie a construção do novo prédio na gestão de Fernando Costa, onde a escola se situa até hoje.

Ademar de Barros, político da época, pára a construção do prédio por quatro anos, sendo concluída mais tarde.

A família "Barros Camargo", acredita que o fato de muitos pensarem que a Escola Trajano Camargo é outra escola, é devido ao seu fechamento por várias vezes, e a parada da construção do novo prédio. Mas, diz Dr. Flamínio, a escola profissional que iniciou na Machina São Paulo "é a mesma". Deixou de ser Escola Industrial recentemente devido a reformas nas Leis Educacionais, e por não ter sido permitido "erroneamente" por professores, direção e influências políticas ser passada para a UNESP, diz Trajano Filho. Hoje é "Escola Estadual de 1º e 2º Grau Trajano Camargo", e se situa no mesmo local, sendo portanto, a escola com o mesmo espírito da inicialmente fundada pelo Dr. Trajano na Machina São Paulo, contam.



SAÚDE: A SOCIEDADE OPERÁRIA HUMANITÁRIA



Já naqueles tempos, membros da Machina São Paulo, cogitavam a idéia de uma sociedade, a exemplo dos ensinamentos deixados por Dr. Trajano. Dentre os muitos idealizadores estão: Armando Bacela, mestre da fundição; Nemésio Teixeira, mecânico de grande gabarito, Augusto Dupré Júnior, chefe de mecânica; Adelino Castrillar, que foi seu primeiro presidente; Antenor Castrillar, Pedro Turpim, diretor da sociedade mais tarde; e outros funcionários de grande valor. Um dos organizadores foi o Dr. Gumercindo de Godóy, da Casa da Saúde, notável cirurgião.

Funda-se posteriormente, a Sociedade Operária Humanitária, que nasceu dentro da industria, tendo como um de seus primeiros médicos, o Dr. Sebastião Toledo Barros. Mesmo enfrentando sempre muitas dificuldades, permanece servindo os remanescentes

da Machina São Paulo, e de toda a comunidade limeirense.



A MACHINA SÃO PAULO DURANTE E APÓS A SEGUNDA GUERRA



Em 1939 a Machina São Paulo engaveta programa para fabricar tratores e implementos agrícolas, mesmo depois de ter sido nomeada exclusiva da Ford para todo o Estado de São Paulo.

Já meio à segunda guerra mundial, a Machina São Paulo é convocada pelo Ministério da Guerra para produzir materiais bélicos em 1942. Dr. Nelson em viagem aos Estados Unidos, pesquisa equipamentos para essa produção, e faz estágio em indústria americana, estudando a prensa cuja base pesava 130 toneladas, a ser importada para a produção de corpos de granadas de aço de artilharia. O equipamento, vem dos Estados Unidos até o porto de Santos, e se fez necessário profundo estudo logístico de todo o percurso de transporte, inclusive a Cia. Paulista teve que construir uma gôndola especial para o transporte da base de aço fundido e indivisível da prensa. Até então, o maior peso transportado pela estrada de ferro. A estrutura de todas as pontes das ferrovias (antiga Santos-Jundiaí e Paulista), tiveram que ser reavaliadas pelo engenheiro Nelson, filho mais velho do Dr. Trajano. Foi realizado um desvio da linha até o interior da Machina São Paulo para receber a prensa forjadora e por onde iria se escoar a produção da indústria.

Nesta época, a Machina São Paulo contrai grande empréstimo do Banco do Brasil para sua ampliação e capacitação. O Exército pagava os vencimentos através do próprio Banco do Brasil, que por sua vez, já debitava as parcelas do pagamento devidas pela indústria. O Banco, desta feita, tinha as garantais de recebimento, e a Machina São Paulo tinha também seus valiosos contratos com o Exército, que garantiam a quitação da dívida que foi contraída em detrimento de tais contratos.

Lembra Trajano Camargo Filho: "A entrada de Getúlio Vargas no poder foi nosso azar", e conta... "Getúlio, então presidente, inicia drásticas medidas no sistema de governo, e com o arsenal de Barueri, o Exército suspende e corta todas as encomendas e contratos, quando a dívida já estava paga pela metade."

A indústria se abala economicamente e inicia uma corrida para a diversificação de sua produção, fabricando semi-eixos de caminhão, botijões de gás, etc. Enquanto isso, o Banco do Brasil vai executando a dívida.

Posteriormente, um irmão do presidente do Banco do Brasil faz proposta de compra da Machina São Paulo à família, que mesmo sentindo-se pressionada, reluta em vender.

Trajano Filho visita, em 1945, o Ministro da Guerra Eurico Gaspar Dutra, que ouve atenciosa e compreensivamente todo o ocorrido. De imediato pede ao oficial do gabinete que datilografe ofício ministerial ao presidente do Banco do Brasil, onde declara a Machina São Paulo de interesse da Defesa Nacional".

Mesmo contrafeito, o presidente acaba por receber o Trajaninho em seu gabinete no Rio de Janeiro, e suspende a ação de execução. "Como troco" diz Trajano Filho, "não recebemos mais nenhum tostão".

Um dos problemas havia sido resolvido, restam outros, inclusive a reestruturação da indústria que faz acordo com a Companhia de Forjagem de Aço Brasileira (Confab), trocando dois contratos de produção por assistência técnica. Foi proposto à General Motors a produção e venda de semi-eixos de caminhão, que recusou achando inviável a indústria automobilística no Brasil, uma vez mais antecedendo a história.



OS ÚLTIMOS MOMENTOS DA MACHINA SÃO PAULO



A família mantém a indústria por mais uns dez anos e acaba por se sentir pressionada e a vende, no início dos anos 60, para a Mercedes Benz, que tinha a declarada intenção de fabricar o trator alemão Hanomag, aqui em Limeira, na Machina São Paulo.

Rumores, boatos, percorrem o país, criando certa expectativa e instabilidade na nação, quanto a intenção do governo em adotar o sistema comunista, socialista, e a Mercedes Benz encerra a Machina São Paulo em 1962, e vai produzir o trator na Argentina.

"Com mais um pouco de paciência, se tivéssemos esperado mais, e a família tivesse permanecido unida", diz Trajano de Barros Camargo Filho, "com a revolução de 1964, nossos problemas teriam se solucionado e a indústria estaria em pé, funcionando até hoje".



O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DE LIMEIRA



Hoje se vê, claramente, o alto desenvolvimento da indústria limeirense que tem sem dúvida alguma, tem o Dr. TRAJANO e a MACHINA SÃO PAULO como um marco, e precursores da expansão industrial de Limeira.

Muitos funcionários deixaram a Machina São Paulo para iniciar suas próprias indústrias, levando de lá os conhecimentos técnicos, administrativos e muita experiência.

Amálio Zaccaria, convida o Dr. Trajano, em 1925, para visitar a máquina de beneficiamento de arroz que fabricara e desenvolvera em casa. Depois que o Dr. Trajano a apreciou e observou seu funcionamento, Amálio lhe propôs sociedade na fabricação desse implemento agrícola, e Trajano, envolto em sua peculiar sinceridade, aconselha o "amigo funcionário" a seguir em frente e diz: "Você não precisa de sócio, Amálio". Posteriormente, Trajano apresenta a "Machina Zaccaria" a seus 200 representantes por todo o Brasil, e exterior, envia catálogo dessa máquina sem ônus nenhum. Machinas Zaccaria produz implementos agrícolas e máquinas até hoje.

Após a morte de Dr. Trajano, José e João Fabri, em 1931 iniciam sua própria indústria, hoje, com nome de Máquinas Fabri.

Em 1934, Francisco D Andréa funda sua Indústria: Indústria de Máquinas D Andréa.

Alberto Fabri, vai para São Paulo, monta sua indústria de máquinas de beneficiamento de café, Despolpador Hélio, dentre outras.

Ambrósio Fumagalli, também funcionário da Machina São Paulo, extrai uma idéia que revoluciona a indústria no Brasil. Observador que era, homem muito inteligente, observa as rodas de um carro de brinquedo confeccionado por Augusto Dupré Júnior, companheiro de trabalho, que as prensou nos equipamentos da Machina São Paulo para um carrinho de brinquedo para um dos filhos do Dr. Trajano que aniversariava. Como o tempo estava curto, optou por suprimir os raios, prensando uma imitação. O sistema das rodas prensadas revolucionara o das antigas rodas raiadas no Brasil. Ambrósio e seu filho Sebastião, mantiveram o sucesso da empresa, indústria Fumagalli, posteriormente tornando-se a multinacional Rockwell do Brasil, Divisão Fumagalli, hoje Meritor, e exporta rodas para vários países. Sebastião Fumagalli, foi o prefeito de Limeira na gestão 1969/1972.

Anos mais tarde a história se repete, quando Trajano de Barros Camargo Filho, trilhando os passos do pai, seguindo seus exemplos colabora com o crescimento das Máquinas Varga", que iniciava a industria de freios, com produção de "burrinhos de freio". Sendo pequena indústria, não tinha laboratório de controle de qualidade, que impedia que seus produtos fossem aprovados pela Volkswagen.

Sem laboratório próprio, Estevan Júlio Varga socorre-se dos laboratórios de análises metalográficas e química da Machina São Paulo, que testava as amostras de ferro e alumínio permitindo que seus produtos fossem enquadrados pelas especificações das montadoras automobilísticas. Sem o laboratório da Machina São Paulo, poderiam chegar as especificações, sem limites de tempo, num jogo de erros e acerto, como num jogo de loteria, como conta Trajaninho. Hoje Freios Varga, indústria de potência nacional e internacional, distribui seus produtos para praticamente todas as indústrias de automóveis.



UMA JUSTA HOMENAGEM



Toda a trajetória dos ancestrais do Dr. Trajano de Barros Camargo, povoadores de Limeira; da curta vida repleta de realizações; desses 40 anos que soube viver; de sua esposa companheira, amiga; de seus filhos; de sua indústria Machina São Paulo; e o desenvolvimento industrial de Limeira, são inseparáveis, indissolúveis.

Limeira é hoje fruto de árvore bem plantada, bem semeada por este, que sem dúvida alguma, se não o mais é um de seus mais ilustres filhos. Sem sua decisiva passagem, por este curto espaço de tempo, não seria o que hoje é.

Diz o ditado: "Atrás de um grande homem", e no caso do Dr. Trajano: "Ao lado de todo grande homem há sempre uma grande mulher". D. Therezinha, sua esposa, faleceu em São Paulo em 29 de julho de 1975, com 81 anos de idade. Foi velada na Câmara Municipal de Limeira, onde foi sua residência, deixando ainda saudosas lembranças. Este homem que soube dar de si para sua família, para sua indústria, para seu funcionários, para toda Limeira, tem hoje a principal rua da cidade, e não é a toa, seu nome, a Rua Dr. Trajano", por onde passam diariamente, e não suspeitam qual o significado de tamanha homenagem a este insigne limeirense.



EXEMPLO OU DESAFIO?



(Coluna EVA - por Santina Frieda Tetzner Dupré)

Comemorando o centenário de nascimento do nosso querido limeirense, Dr. Trajano de Barros Camargo, não poderíamos deixar de falar dessa magnífica figura, que caminhava ao seu lado.

Aquela criatura, companheira de todas as horas, dedicando-se totalmente ao lar com filhos, e que "embalava o cafezinho das duas horas", levado ao esposo na indústria.

Aquela mãe dinâmica, inteligente, de bom caráter, que sabia usar disciplina e nunca violência.

A professora, ministrando no lar as primeiras letras dos filhos, sabendo dar-lhes igualmente oportunidade de estudo, e aquela educação de base, com reflexos nos dias de hoje.

Rica em prendas domésticas, aquela que sabia orientar sua equipe de trabalho com muita sabedoria e precisão, num gesto sempre amigo.

Depois viúva, torna-se empresária, administrando com seu filho mais velho, de apenas 15 anos de idade e pessoas competentes e de sua confiança, a tão falada Machina São Paulo.

Em 1932 dá seu apoio ao movimento constitucionalista, organizando um grupos de enfermeiras.

Entra formalmente para a política, sendo a primeira prefeita de todo Brasil em 1934, governando Limeira. E nesse embalo é eleita deputada estadual por São Paulo, sendo uma das primeiras deputadas do Brasil.

Muito para uma só mulher: amante da música, da pintura, adora teatro, desafia os tempos e até o "próprio computador" (o seu diretor de finanças), que a informava sobre seus gastos..."tanto por dia, por hora e por minuto e por segundo"...

Erguido seu palco, oferece festas: há cristais, prataria, muitas flores, toalhas ricamente bordadas, orquestras da capital! Mas, a cortina se fecha pela última vez, e tudo fica em silêncio.

Falece em São Paulo, onde foi residir definitivamente após 1960, em 29 de julho de 1975, aos 81 anos de idade velada na Câmara Municipal em Limeira, casa onde residiu e está sepultada juntamente com seu esposo, no Cemitério da Saudade.

Exemplo ou Desafio?

- Exemplo e Desafio: Maria Thereza Silveira de Barros Camargo, a nossa D. Therezinha.



ORGULHO EM SER LIMEIRENSE



Foi tendo contato direto com as pessoas que com o Dr. Trajano viveram, seus filhos e ex-funcionários; com seus feitos registrados pela memória, pela imprensa, desde sua partida, é que eu, filho de São Paulo, habitante quase toda a vida em Limeira, onde vivo e onde passei minha infância, meus sonhos, minhas realizações, alegrias e desencantos, tendo sempre encontrado fora daqui alguma sensação de realização, hoje, pela primeira vez, sinto orgulho em SER LIMEIRENSE.



Limeira, jamais poderá negar a este homem, incansável, intrépido soldado de seu crescimento, de seu desenvolvimento, marco responsável pelo seu gigantismo, o lugar a que faz jus.



HOJE, NA DÉCADA DE 90, QUANDO COMEMORAREMOS O CENTENÁRIO DE SEU NASCIMENTO EM 15 DE MARÇO, AINDA PODEMOS SENTIR, NITIDAMENTE, A BEIRA DO SÉCULO XXI, SUA GIGANTESCA CONTRIBUIÇÃO.



SUA HISTÓRIA NÃO TERMINOU, E NÃO TERMINARÁ, ENQUANTO AINDA EXISTIR LIMEIRA, A CIDADE DO

DR. TRAJANO DE BARROS CAMARGO.





Fontes de Pesquisa:



- O Vagalume(Colégio Santo Antonio e do Gymnásio Municipal de Limeira - ano III - nº 22 - 1930

- Gazeta de Limeira - Suplemento Histórico - 1980

- Entrevistas e pesquisas de material histórico com a família do Dr. Trajano de Barros Camargo - 1989/1990

- Entrevistas e pesquisas de material histórico com ex-funcionários das Machinas São Paulo - 1989/1990

- Entrevistas e pesquisas de material histórico com meus familiares, que trabalharam nas Machinas São Paulo e na casa da Dona Therezinha.

- Biblioteca Pública Municipal de Limeira





* João Augusto Cardoso, nasceu em São Paulo-SP, em 25/04/1963. Em 1990 era editor responsável de "O Jornal", jornal periódico de linha editorial sócio-cultural. Circulou de 1989 à 1992. A partir de 1º de março de 1991, tornou-se franqueado dos Correios, inaugurando a primeira Agência de Correio Franqueada de Limeira, da Região Operacional de rio Claro, sendo a segunda do interior do Brasil, e a nona de todo o país, que continua operando ainda hoje. De 1992 à 1996, foi editor responsável do jornal Expressão Regional de Itapira-SP. Hoje, já no ano 2000, é advogado e agente da propriedade industrial, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil e Credenciado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, com especialização em Direito Comercial Internacional pela Stetson University nos Estados Unidos, cursos de Direito da Propriedade Industrial pela EMERJ/RJ; Patentes e Desenhos Industriais pelo INPI/RJ; e Software pela FGV/RJ. Pós-graduação em Administração de Empresas pela Escola de Engenharia de Piracicaba, e Pós-graduação em Direito da Economia e da Empresa pela FGV/RJ. Membro da Associação Brasileira da Propriedade Intelectual. Também é membro da Academia de Bellas Letras del Cono Sur (Uruguai) desde 1994; da Ordem Acadêmica dos Intelectuais do Cone Sul (RS) desde 1995; e da União Brasileira de Escritores desde 1996. Membro do Grupo Escoteiro Tatuibi desde 1982, e do Rotary Club de Limeira Norte desde 1998.
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